Choveu aqui dentro.
Hoje, choveu. Mas, não choveu lá fora. Choveu aqui dentro.
Choveu por um momento.
Senti saudades de sentir saudades e me disponibilizei.
Me vi criança sorridente.
Sentei!
Me vi livre, sonhei!
- Mãe! Posso correr na chuva?
- Pode. Mas, com cuidado!
Corri feliz sem me preocupar com nada; apenas corri!
Olhei o rosto de outras crianças desejando minha liberdade.
Mas, elas estavam presas pela chuva!
Corri livre!
A chuva me fez livre.
Hoje, choveu. Mas, não choveu lá fora. Choveu aqui dentro.
O sorriso de minha liberdade era nítido, tanto que se confundia com lágrimas.
Quando o céu chora, a chuva cai...
Senti chuviscos leves no final...
A chuva anunciava sua partida: pingos leves, leves pingos. Suaves pingos de saudade.
Parei de correr, abri a boca em direção aos céus – senti pingos de chuva que mais pareciam saber onde cair. Ela estava indo embora!
Lábios molhados da chuva.
Chuva serôdia.
Chuva temporã.
Brisa fria e terra molhada!
Pele molhada!
Chuva que chove encharcando minha pele e disfarça meus olhos de lágrimas...
Se o céu chora, também choro eu!
Chuva, chamego, capricho que viu no meu rosto a brecha da vida,
Ferida pichada e aberta sem cura, madura,
Teu nome é fruta doce colhida na chuva, Tua,
TaTuagem charmosa,
Pedra que brota preciosa ao sol.
Olhos fechados. Estou na chuva...
- Entra! Escutei a voz de minha mãe. - Está na hora de entrar! Dizia ela.
- Já vou, mainha!
Parei. Abri os braços na chuva. Queria que a chuva me abraçasse!
Um abraço me bastava. Mas, não deu tempo...
A chuva anunciava sua ida...
Sim. Está na hora de entrar e deixar a chuva passar.
Passa, chuva!
Não passa, chuva!
O sol irradia lentamente...
Chegou a hora!
Vou entrar!
Ao menos tenho o Girassol pra lembrar que um dia a chuva volta!
Te amo, Girassol!
Gira, sol!
Gira, mundo!
Gira!
Espero que um dia a chuva volte, nem que seja pra molhar meus lábios novamente!
Espero que volte!
Espero que ela volte!
Espero...
Volte!