PENSÃO AZUL
Nos céus da Montanha arde
O dourado sol poente,
Enquanto a tristonha tarde
Vai morrendo lentamente.
O crepúsculo estende seu manto
Violáceo sobre as montanhas
E a torre da igreja e um canto
Misterioso me percorre as entranhas.
Que é e de onde vem este canto,
Este nostálgico canto
Que me traz agora
O doce vento
Dos dias d’outrora
E que não mais me sairá do pensamento?
É um canto todo feito de nostalgia,
De ternura e de melancolia
Este que me vem nesta tarde fria,
Duma boca há muito emudecida
E duma casa há muito demolida,
Onde, em dias que já lá vão,
Funcionou a célebre Pensão Azul.
Ah! Pensão Azul dos áureos tempos,
Orgulho da Vila Nova [1] dos dias de antigamente!
Pensão Azul das belas moças tísicas
Como aquela cujo misterioso cantar agora ouço
E dos saraus frequentados por Monteiro Lobato,
Mário de Andrade e Guiomar Novaes.
Pensão Azul que inspirou
A pensão de D. Sofia
Do lindo romance "Floradas na Serra",
De minha prima Dinah [2].
Ah! Pensão Azul dos áureos tempos,
Orgulho da Vila Nova dos dias de antigamente!
Pensão Azul das belas moças tísicas
Que um dia, com as lágrimas
De seus olhos e o sangue de seus pulmões feridos,
Regaram a boa terra
Dos Campos do Jordão!
Pensão Azul das belas moças tísicas,
Das “héticas maravilhosas”
Cantadas pelo poeta da "Pauliceia desvairada" [3],
No seu “Acalanto da Pensão Azul”,
E dos memoráveis saraus
Que frequentei em sonho
E nos quais Guiomar Novaes
Tocava lindamente os noturnos de Chopin,
Enquanto lá fora, nos límpidos céus da Montanha,
As estrelas davam festas venezianas.
Ah! Pensão Azul há muito demolida
Mas que vive na minha imaginação
E na minha saudade!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Campos do Jordão, 27 de julho de 2015.
Notas
[1] Vila Abernéssia.
[2] Dinah Silveira de Queiroz.
[3] Mário de Andrade.