IDENTIDADE DO SERTANEJO
Sua identidade vem da capoeira,
Do cabo da foice, do machado bronco,
Do facão, da trincha e da roçadeira.
Do açoite forte no corte do tronco,
Do jacarandá e da pobre aroeira.
Sua identidade registra sua sina,
Fora da memória do computador,
Do papel timbrado, sem tinta, sem cor.
Jamais foi criança, jamais foi menino.
Suas mãos calejadas, mostram seu labor,
Fincando as estacas na cerca de faxina.
Sua identidade está registrada
Nos rastros pisados por onde passou.
Nas curvas da vida, na rota da estrada,
No limo da pedra, onde escorregou,
Sua fotografia, ficou bem gravada,
Em cada pegada onde caminhou.
Sua identidade tem a logomarca,
Do respeito e da sinceridade,
Da luta vivida e da humildade.
O clarão da luz esplêndida que abarca
O espaço da força da honestidade.
Seu selo, seu timbre, sua marca.
É aquela criança da estribaria,
Do cheiro caprino do aprisco,
Leite de cabra, sabor do chiqueiro,
Estrume no terreiro do quintal,
Fezes bovinas lambendo-lhe os pés no curral,
Galinhas ciscando ao pé do pilão,
Comendo o xerém, soprado dos grãos.
Ele é a criança da roça queimada,
Da cerca de vara de talo de coco,
Plantando de enxada, a roça no toco,
Milho na boneca, arroz e feijão,
Melão, melancia, fava e algodão.
Seu sangue tem o caldo doce
Do gomo perfeito da cana-de-açúcar,
Garapa na cabaça, mel na cumbuca,
Que verte da terra e da luta diária,
Gotas de orvalho salgadas, sal suado
Da pele vertente do trabalhador.
Ele é o menino do pé de mandioca,
Do aviamento, massa e tapioca,
O rodo a palheta, forno de farinha,
No teto de palha, fumaça e picumã,
Da lasca de lenha, da unha de gato.
Das trempes de pedra, panela de ferro,
Entre labaredas, preta de carvão.
Ele é o menino do cofo, da esteira,
Bodoque, arapuca, laço, baladeira,
Quebra, jequi no pari, fojo e alçapão,
Da pesca de engancho e tarrafa pesqueira.
Caçadas noturnas de cachorros bravos,
Ganindo ferozes, cavam como escravos.
Ele é o menino lá da olaria,
Amassando o barro da alvenaria,
De pele queimada pelo sol ardente,
Tijolos no lastro, caieira queimando,
No fogo de lenha, fornalha quente.
Ele viveu a batalha da luta diária,
Um perseverante, nunca desistente,
Rompendo as barreiras da força contrária,
Firme, forte, bravo, garbo e resistente.
Um guerreiro ousado sempre segue em frente.
Ele é a criança velha, um velho, uma criança,
Que não teve infância, nem adolescência.
Quem vive na luta, nunca vida mansa,
Sempre trabalha e nunca se cansa,
Vivendo a infância e adolescência.
Ele é um menino velho,
Pobre caminheiro na rota do tempo.
Nunca saiu dele, aquele menino portento,
De garra e de luta, pelo seu destino.
Nunca saiu dele, aquele jovem bravo
Feliz, sonhador, sempre destemido,
Vivendo a batalha de cabeça erguida.
Nunca saiu dele o velho criança,
Que faz poesias para diversão.
Suas trovas, suas rimas, seus versos,
São cantos festivos, frutos do universo
Dos seus pensamentos. São reflexões,
Na velhice desta criança velha, deste senhor,
Onde habita um ser humano por completo.
Uma criança alegre, um jovem batalhador,
Um adulto lutador e um velho menino,
Resumo de um jovem sonhador.
Antonio OnofreGF, em POEMAS AFLITOS,
Teresina-PI, Fevereiro/ 2022.