O MENINO QUE DESENHAVA NA AREIA
Quando menino
Literalmente
Não carreguei água na peneira
Mas desenhei na areia
Criei no vento, escrevi no tempo
Nunca vi ninguém fazer da peneira
Um guarda chuva, um guarda sol
Mas tentei me esconder de gente
Sem sair da sua frente
Mergulhei no mundo das ideias
Para fugir da realidade
Dialogava com o amigo imaginário
Ouvia conselho de quem não existia
E muito menos vê-lo eu podia
Não peneirei informações
Não dei ciência às palavras
Nem sabia o que era verdade
Não entendia o conceito bondade
Minha necessidade era comer
Brincar, criar, correr
O real não me interessava
O imaginário me fascinava
Ia da Terra à Plutão
Atravessava o universo
Com minha nave espacial da ilusão
Os heróis saltavam de dentro de mim
Enfrentavam monstros poderosos
Vilões fortes, astutos e ruins
Batalhas travadas na mente
Ou no chão do terreiro
Bombas de terrão, grandes ruídos
Bonecos feridos, caídos
Mas não sofriam dores
Tinham nomes e cores
Incansáveis lutadores
Cachorro Banzé, Super Noel
Família Sandor, Ajax
Ganhavam guerras
Restabeleciam a paz
Tudo que eu queria
Era permanecer nesse universo
Viver sempre o inverso
Não crescer como Peter Pan
Não ver chegar o amanhã
Não deixar de ser criança
Não parar essa dança
O mundo dos adultos me cansa
O jogo da sociedade me entedia
É o gerar disparidade noite e dia
A guerra do mundo é matança
Diferente do meu mundo de criança
Aqui os heróis são falsos
Mentirosos e injustos
Defendem seus próprios passos
Os vilões se disfarçam em mocinhos
Disputam corridas com seus jatinhos
Não mostram sua cara horrenda
E se as mostram têm seus fãs
Roubar e enganar é seu afã
Aqui já não tem inocente
Culpada é toda gente
Gostaria de voltar
A ser criança de antigamente
Viver outra realidade
Criar outro mundo em minha mente
Creio seja essa
A missão de gente decente.
Aberio Christe