FOI UM SUFOCO

FOI UM SUFOCO

Carlos Roberto Martins de Souza

Nasci num cantinho humilde lá na roça

Longe de qualquer facilidade moderna

O parto durou três horas numa palhoça

E foi com parteira e a água de cisterna

Não teve pré-natal nem o tal ultrassom

Nem doutor nem mesmo sala de parto

Apenas colchão de palha nada de bom

Era grande simplicidade aquele quarto

Na pacata Vila de Bueno a notícia correu

Vieram para casa para ver os prêmios

Pois o fato inusitado no parto aconteceu

O casal tinha tido um casal de gêmeos

Não teve a primeira foto e não filmaram

Muito menos o badalado chá de bebê

Nem com talco Pompom presentearam

Foi uma cena dura não passaria na tv

Entra uma mulher de pequena estatura

Idosa de fala mansa, a mãe de umbigo

Do alto de sua humildade tinha postura

De quem sabia lidar com aquele perigo

O grito de uma mulher a parir ecoava

O choro de criança nascendo na roça

Era a vida dando vida o fato anunciava

Tinha gente nova na Vila e na palhoça

Não vim sozinho minha irmã veio junto

No mato de um já era duro fazer parto

Quando o drama mudaram o assunto

Pois tinha um berço simples no quarto

A espera foi longa e muito angustiante

Era o primeiro parto de gêmeos da roça

Também era a novidade da tal ajudante

Todos aflitos pelos cantos da palhoça

Minha irmã venceu a luta saiu primeiro

Me deixou lá no sufoco por três horas

Nasci mostrando que seria um guerreiro

Cheguei de chicote de botas e esporas

Tomei banho de chá de picão acredite

Diziam os matutos curar a tal icterícia

Só leite materno para matar o apetite

Leite em pó ou papinha coisa fictícia

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 18/01/2022
Reeditado em 10/04/2024
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