AUTENTICIDADE

Eu me desenho

Rasgo o rascunho

E depois reinvento

Uma sombra

Uma árvore

Uma ponte

Uma guarida

Eu

Sempre eu

Sempre eu

Eu morro, mas renasço

Eu desfaço, mas refaço

Eu me curvo, mas não caio

Eu fortaleza no vento que se apresenta

Eu um invento que se reinventa

Eu

Sempre eu

Sempre eu

Eu posso sumir

Mas sei da minha muda presença em ti

Pelo que me redesenho

Eu me renasço

Eu aço

A poesia de mim é o meu sustentáculo

Eu

Sempre eu

Sempre eu

Se, porventura, pareço esmorecer

Lembro-me do que há por viver

Do sentido da vida

Dos reais objetivos de nascer

Eu nego o outro

Mas eu sou o outro

Embora a negação dele

Também possa ser

Eu que deformada, reformada e formada

Repenso o que dispenso

Dispenso o que repenso

Sobretudo, penso no que repenso

Eu certeza errada

Certeza certa ou vencida

Eu inimigo de mim não pode haver

Eu meu melhor amigo é o dever de ser

Eu e meus múltiplos “eus”

Eu conjugo o verbo

E esquecer já não quero

Já não posso mais

Eu nada fazer

Em sendo todos

Eu devo eu ser

Eu desavesso do outro

Desavesso de mim não posso ser

Eu avesso do outro

Avesso de mim não posso me conceber

Eu nunca em pensar devo

Definitivamente, eu não devo

Deixar de eu ser.

Alexandra Matos

11/10/2017