Gravatá

 

Olhe, o tempo antigo ali está

bem na moita de gravatá.

Ah! Não, não... Pois antiga sou eu.

Eu que andei por tantos caminhos,

feri-me com outros espinhos.

E o sonho? Quase feneceu...

 

Mas voltei... Folhas madurando

disseram-me: vem, até quando

deixarás morrer os teus versos?

Ah! Vem colher o que te apraz

no âmago meu. És capaz?

Olhei então para meus complexos.

 

Sem pensar colhi de ti o broto.

Feri-me no poema roto,

mas, sem dó foste decepado.

Ah! Eu ajoelhada na ilusão,

o punhal erguido na mão...

Tú e eu sabíamos do fado.

 

Parti. Poema no embornal.

Meu sonho d’alma e carnal

à custa do teu fim amargo.

Mas sei eu bem, és tú tão perene!

Ah! E quanto à poesia infrene

logo brotarás.  Eis teu cargo.

 

 


 

 

PS.: A imagem é de um pé de gravatá que cliquei semana passada na roça. É uma planta da família das bromélias que dá no cerrado e que popularmente chamam de abacaxi-de-raposa. Tem outros nomes populares também. É belíssimo assim já com as folhas vermelhas. Parece uma estrela. Geralmente é todo verde, mas nessa época do ano, novembro e dezembro ele madura as folhas e dá fruto que é como um monte de gominhos juntos parecendo abacaxi . Nos tempos de criança quando estava nessa fase com um miolo branco no meio a gente colhia, picava e cozinhava. É uma delícia. A gente também  comia os gominhos quando maduravam. Muito delicioso.  Hoje em dia não tem tanto como antes porque os cerrados se transformaram em lavouras. Mas lá na roça nossa ainda tem um espaço de campo e  cerrado que tem. Mas só esse ano resolvi colher alguns para relembrar os tempos antigos.  Interessante que nessa fase da vida da vida, depois dos cinquenta a gente se pega relembrando coisas passadas. Mas segundo a psicologia, isso é normal. Então tudo bem. E lá vai eu: facão na mão subindo o espigão atrás dos gravatás, depois de tanto tempo.  Colhi que deu um molho bem grande. A gente coloca pimenta, açafrão e cheiro verde. Uau. Tem nada melhor não.  O poema eu fiz para reverenciar o pé de gravatá que, confesso, me pareceu bem poético agora que finalmente enxerguei a relação que teve com minha vida.  

Para saber mais sobre essa planta, clique no link abaixo

 

seta - Programa de Pós Graduação em Geociências PPGGEO UFRGS https://matonoprato.com.br/panc1/gravata/