DIVAGAÇÕES

DIVAGAÇÕES

Carlos Roberto Martins de Souza

Antigamente na roça eu tinha pavores

No curral atrás da cerca me escondia

De bois seus chifres eu tinha horrores

Aquela era uma parte da vida bandida

Hoje na cidade tenho medo de pessoas

De seres humanos chamados racionais

Suas atitudes e as ações não são boas

Na verdade são piores que os animais

Lá na roça antigamente era só fartura

A carne cozida era guardada numa lata

A água na cisterna fazia a vida ser dura

A lenha para fazer fogo vinha da mata

Recordo os tempos que morei na roça

Entre as montanhas lá daquele matão

Tinha uma mula e também uma carroça

Muito orgulho de ser um bom cidadão

Visitar um vizinho era muita diversão

Tinha o seu Zezinho e a dona Marília

Lá dividíamos arroz e também o feijão

Vivíamos todos como uma boa família

Todos os sábados corria para a cidade

Para fazer a compra na venda do Zeca

Já noitinha voltava para minha herdade

Tomava banho e ia secar minha cueca

O rei sol nem surgia lá naquele grotão

E já se ouvia cantar o galo no terreiro

Eu sentia o cheiro de café lá no fogão

Com bolo de fubá com queijo mineiro

O amanhecer é muito bonito na roça

A passarinhada alegre numa sinfonia

Ao longe ouço um barulho de carroça

Da água na bica em sua doce melodia

Da campina vem um cheiro de mato

De lá a galinha saia disfarçadamente

E seu canto fazia do menino um jato

Correr para colher o ovo ainda quente

A panela velha naquele fogão a lenha

Cozinhava a deliciosa sopa de galinha

Ao longe a fumaça subia como senha

Mostrando o bom tempero na cozinha

E a tarde mansamente vai morrendo

No horizonte o céu tinge em rubores

O dia se vai no espetáculo estupendo

Chega a noite em apoteose de cores

E ela negra escura cai sobre a terra

Cobrindo o espaço formando um véu

Quanto mistério na cena se encerra

Com os astros que brilham lá no céu

Sentados na varanda a luz de lampião

A família fechava o dia com os contos

Piadas não faltavam tinha até mentirão

Era uma disputa acirrada pelos pontos

Os velhos contavam as histórias antigas

Aqueles velhos causos de assombração

As histórias arrepiantes que são ouvidas

Com muito medo com arrepio e emoção

Na hora de dormir um cafezinho quente

Faz muito bem para espantar a friagem

O saboroso põe o pessoal bem contente

Aquece o corpo dá calor e até coragem

Depois da tragada é só cama quentinha

Correr e se enrolar num macio cobertor

Relaxar dormir muito até manhãzinha

Dando a dura vida um sono reparador

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 11/10/2021
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