MATUTO ASSUMIDO
MATUTO ASSUMIDO
Carlos Roberto Martins de Souza
Sabe seu moço eu nunca tive estudo
Eu só aprendi trabalhar duro na roça
Minha casa simples não tem de tudo
Não tem banheiro só tem uma fossa
Tenho as mão calejadas isto tem razão
O trabalho na roça é exigente e pesado
O calo marca do arado rasgando o chão
Do solo de um sertão um lugar sagrado
A nossa casa é de caboclo está aberta
É bem-vindo quem lá chegar prá visitar
De coração aberto até na visita incerta
Na confiança a gente manda ela entrar
Moro na cabana com telhado de sapê
A parede escura na fumaça do fogão
Com um toco de brasa de longe se vê
Na trempe a sopa fervendo no panelão
O tempero forte cheira fundo no sertão
Anunciando que tem comida quentinha
Do fogão se espalha por todo o casarão
O aroma perfumado saindo da casinha
Quem é bom já nasce feito para a vida
Quem é ruim neste mundo só atrapalha
Para quem não ouve sobre a minha lida
Eu bato no burro e não bato na cangalha
Graças a Deus é uma casinha abençoada
Na minha mesa sempre tem o que comer
E por acaso se alguém me pedir pousada
Pode estar certo eu hospedo com prazer
A minha barraca que é casa de caboclo
Não tem conforto como outras casas têm
O que eu possuo realmente é muito pouco
Graças a Deus dá pra mim e mais alguém
Meu chapéu de palha capacete matreiro
Ele tem muita história de vida pra contar
No roçado ele trabalha também é festeiro
Na rua mostra que sou homem de lutar
Coberto de medalha o emblema brasileiro
O chapéu de palha é uma antiga tradição
Ele é um troféu ele é o distintivo de roceiro
Faz do caboclo homem honrado do sertão
Eu lá deixei a roça para lá voltar um dia
Vim morar na cidade foi dura a decisão
Passei uma viver a rotina com gente fria
Me senti metido numa enorme confusão
Os barulhos da cidade me deixam louco
De dia é buzina de noite é só confusão
A coisa está de arrancar o sabiá do toco
Estou doente sofrendo com meu coração
Sou matuto assumido caipira do grotão
Eu fui condenado pela vida a dura pena
Estou na cidade cumprindo minha prisão
É esta a minha dura e triste luta terrena
Eu conto dias as horas até os anos duros
Quero voltar prá o roçado o meu cantinho
Meus cabelos brancos são paga dos juros
Vou voltar abraçar a todos com o carinho