Rua Mamoré
Repica o sino da igreja e canta a cigarra
Anunciando o crepúsculo na rua Mamoré
Os netos saem do pátio e entram em casa
Agitados e sujos anseiam logo pelo café
A vó vai à varanda para contemplar
O cinzento céu e o tempo
E escuta as amendoeiras a sussurrar
Instigadas pelo sopro do vento
Balbucia um Pai Nosso de coração sincero
Que Deus guarde os filhos já crescidos:
Ricardo, Sérgio e Roberto
Pelas filhas também intercede pela alma
Que Deus proteja as já crescidas:
Renata, Rosane, Simone e Rosalba
E derrama uma vez mais o antigo pranto
Que Deus tenha piedade dos falecidos:
seu filho Sandro e seu marido Orlando
Volta à sala e põe ordem nas crianças
Serve a manteiga, o presunto e o pão
-- Dois para o mais velho encher a pança
E acabou porque ainda há o seu irmão
Ansiosos e famintos tomam logo seu café
Repica o sino da igreja e canta a cigarra
Anunciando o crepúsculo na rua Mamoré.