A fome do tempo

Eu ainda ouço, cada vez que fecho os olhos

As velhas cirandas infantis...

O tempo engoliu as tardes ociosas

Engoliu o colo dos avós

Engoliu as horas no sofá

Engoliu os contos de fadas

Engoliu o príncipe encantado

Engoliu o "pede pro teu pai"

Engoliu o "fala com sua mãe"

Engoliu aquele velho parque na praça

Engoliu a pequena cidade

Engoliu as ruas de pedras

Engoliu as férias de verão

Engoliu as festas, gravadas em fitas VHS

Engoliu os bolos decorados

Engoliu a árvore de Natal

Engoliu a chegada do Papai Noel

Engoliu os domingos com Senna

Engoliu os anos 80

Engoliu os anos 90

Engoliu os anos 2000

Meu Deus, tempo!

Que fome toda é essa?

Ainda que consegui te enganar um pouco

Pois ainda ouço, cada vez que fecho os olhos

E olho para dentro de mim

As velhas cirandas infantis

Meus álbuns de fotografias velhos

Também me ajudam a lembrar

Aquilo que os olhos não enxergam mais

As lembranças, meu caro tempo

Pode até tentar

Mas você não poderá levar!