Um pedaço de Jaú
No anoitecer dos dias,
Quando a vida se despir
Dos raios dourados da minha mocidade,
Quero fugir por um instante
E percorrer o chão batido
Da velha estrada de cascalhos.
Quero beber o verde das colinas
E descer no coração do grande vale,
Onde passei meus dias de sol
Correndo pelos campos.
Lugar onde compreendi a natureza,
Onde me ensinaram a amar a chuva
Que molha a terra e fecunda as sementes,
- Que o homem lança, com a certeza de colher o fruto.
Vou descer no meu vale para agradecer,
Pois foi como a força das águas
Que correm em suas entranhas,
A força do despertar da minha busca.
Foi no seu seio,
Tão repleto de brisa,
Onde nascem os girassóis no milharal;
Onde a cana-de-açúcar se estende doce
Sobre as delícias da terra roxa
É que nasceu meu primeiro verso,
Nutrido pela força e pela coragem do seu solo,
Como homens de mãos nas enxadas
No revolver da terra,
Levando a alegria de cada dia de sol
Nas costas morenas.
Foi aí meu vale, meu desabrochar,
Tão vivo quanto a esperança da mulher que espera,
E ensina o filho amar a terra em que nasceu!
(do livro de poesias “Tatuagem”)