A PRIMEIRA VEZ
 
A primeira vez que vi o mar
lamentei que a noite
o tomasse de mim
Pela janela da memória
em nítida imagem
a noite deixou seu presente
Mar de estrelas, depois de água
depois de mar, depois de gente
Descobria que entre a terra e o céu
o sonhar era possível
Que as sensações são como ondas
que vem e que vão pela praia
E recolhem-se solitárias e zelosas
para o fundo do mar
 
A primeira vez que via a chuva
ela despencava sobre nossa vila
em nuvens e trovões
Recolhi-me e pus-me a ouvi-la
sua voz,  diferente em cada instrumento
no telhado, no piso molhado
nas folhas, lançadas ao vento
Sua música, musa da tarde
tocava minha alma
viajava em minha mente
Descobria assim que podia conversar comigo
  
A primeira vez que vi a lua
pensei que ela pudesse sair
de sua sempre mesma sina
fazer uma travessia, virar uma esquina
Decidi, perseguir sua descida
até seu amanhecer, sem vida
Assim, descobria a madrugada
berçário de sentimentos
rosário de tantos dilemas
Amiga e companheira
parteira de tantos poemas
 
A primeira vez que ouvi um fado
foi quando por minha mãe cantado
Senti-me triste
atado, detive-me um tempo,
atento a sua tez fatigada
porém contida de terna beleza
Lá estava ela
cantando ao pé da porta,
ao pé da fogão, ao pé da vida...
e pouco a pouco descobria
que meu pranto perdia-se
na eternidade de um dia
quando docemente acalantado
pelo seu canto, pela saudade e pela poesia
 

 
Poema dedicado à minha mãe Vitalina, que “partiu antes
do combinado” e que deixou muita saudade.
 
 
Claudio Lima
Enviado por Claudio Lima em 08/06/2021
Reeditado em 08/06/2021
Código do texto: T7274452
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.