Para pai, mãe, Tia Maria e Tio Perrone.
A casa era bem pequena, porém ousada
Sem nesga de passeio nem sombra de calçada
Lançava-se sobre a rua com olhos curiosos
enquanto a tarde escoava, na suavidade de então...
Eu era nesse então, uma criança então...
Poupada das agruras e desconjunturas
Do mal que apenas saber traz ao coração.
Sim, eu era criança então, e a casinha
Nas tardes esticadas da Ribeira, cidade baixa
Era meu destino nos sábados de sol.
A casinha, o louco pinscher, o picolé de coco verde
E eis-me completo de sorrisos, latidos e sabores.
Tia Maria, Tio Perrone, por que a morte faz questão
De colher a todos, e mesmo as crianças, quando então
pouco sabem deste teatro de desventuras?
A pequena casinha na Ribeira de outros dias
É museu de doces fantasmas que em sonho me visitam
Como se o etéreo substituísse o abraço, a brincadeira...
Mas é só o que nos restou, o que então temos
E digamos amém pelas tardes na Ribeira.
Crédito da imagem: https://www.bailandesa.nl/blog/4591/sorveteria-da-ribeira-um-sorvete-que-vale-a-viagem-a-salvador/