O avental

Era de chita, ou de algum pedaço

do vestido velho, em desuso

Esgarçado pelos muitos anos de uso

Mas, qdo colocado, limpo, mais limpo q a água da bica

Que corria nas pedras do corguinho

À beira da mata virgem rica

E guardava o pó da espiga de milho,

os respingos do xixi do filho,

do molho da macarronada de domingo

O grão da galinha indo e vindo

A abobrinha colhida na roça

O pintinho com frio na chuva,

No quintal amplo, limpo, lindo

Varrido com a vassoura de guamxumba

Os dengos da filha com caxumba

Do pomar, os cachos da doce uva temporã,

As orvalhadas maçãs

Nas tardes frias de junho

Acolhia também , como se altar fosse

As lágrimas do filho que tão cedo partiu

Defeito congênito letal?

Ou qualquer outro mal?

Lá no paiol, onde moravam, fato

Morreu roxo, da cor da petúnia do mato

O Coraçãozinho frágil, parou

Antes chorou, chorou, em vão

Os anjos estavam dormindo então?

José Carlos era seu nome

Gêmeo do outro Carlos, João

O avental secou pois, com esmero

Dos olhos aflitos, em desespero

Todo pranto de minha mãe.

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 05/06/2021
Reeditado em 06/06/2021
Código do texto: T7271919
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