O avental
Era de chita, ou de algum pedaço
do vestido velho, em desuso
Esgarçado pelos muitos anos de uso
Mas, qdo colocado, limpo, mais limpo q a água da bica
Que corria nas pedras do corguinho
À beira da mata virgem rica
E guardava o pó da espiga de milho,
os respingos do xixi do filho,
do molho da macarronada de domingo
O grão da galinha indo e vindo
A abobrinha colhida na roça
O pintinho com frio na chuva,
No quintal amplo, limpo, lindo
Varrido com a vassoura de guamxumba
Os dengos da filha com caxumba
Do pomar, os cachos da doce uva temporã,
As orvalhadas maçãs
Nas tardes frias de junho
Acolhia também , como se altar fosse
As lágrimas do filho que tão cedo partiu
Defeito congênito letal?
Ou qualquer outro mal?
Lá no paiol, onde moravam, fato
Morreu roxo, da cor da petúnia do mato
O Coraçãozinho frágil, parou
Antes chorou, chorou, em vão
Os anjos estavam dormindo então?
José Carlos era seu nome
Gêmeo do outro Carlos, João
O avental secou pois, com esmero
Dos olhos aflitos, em desespero
Todo pranto de minha mãe.
Benvinda Palma