ESMAECEU-SE O RECANTO AMADO
Izaias Veríssimo de Castro – Záias Castro (08/01/2021)
Não há neste mundo gente sana que não lembre
Da rocinha onde nasceu e parte da infância viveu
E que ainda que por vaidade ou mesmo necessidade
Tenha ido morar na cidade em busca de prosperidade
É certo que pra sempre terá na mente e no coração
Um pouquinho do sentimento chamado saudade
Mudamos para a cidade, eu tinha quatro anos de idade
Meus pais vieram procurar trabalho de melhor estabilidade
E colocar os filhos em escola de maior grau de aprendizagem
Com o dinheiro do acerto pelos tempos de agregado
Meu pai comprou um barracão, onde fomos acomodados
Mas na roça meus avós e alguns parentes ainda ficaram
Então nas férias da escola ou num feriado prolongado
Lá ia eu passear naquele recanto amado
A ansiedade pela ida começava na madrugada
Era hora de levantar, trocar de roupa, preparar a mala
Depois ir logo pra estação, pois o trem não esperava
Naquele balançar gostoso e admirando as belas paisagens
O tempo passava, 40 minutos e minha imaginação voava
Ao descer do trem ainda tinha alguns quilômetros de caminhada
Mas o relinchar de cavalos e o mugir do gado animava
E logo sem cansaço no recanto da Dindinha eu chegava
Pulava logo por cima da cerca de madeira engavetada
Caminhava entre o milharal que no quintal Zezé plantava
E já chegava à porta simples da casinha de chão batido
Cobertura de pindoba e paredes de enchimento, barro e varas
Onde os velhinhos já esperavam e felizes me abençoava
Na pequena sala tamboretes e uma mesinha quadrada
Um couro de boi estendido no chão e um banco encostado
Cama de estrado em tiras de couro entrelaçado
Colchão artesanal, enchimento de capim
Dormia quietinho ali, quase que sem mexer
Porque fazia aquele barulhinho de chiado
Jiral de varas no quintal era a pia de cozinha
E lá eu lavava vasilhas para a saudosa Dindinha
Pés de corante, de feijão andu e um de bambu
Pés de palma e um frondoso pé de umbu
Frutos graúdos, carnudos e doces, delícia do sertão
Arroz de leite, espigas de milho assado, mingau
Angu de milho verde, feijão e abóbora com quiabo
Café no bule sobre a chapa do fogão, quentinho
Nos troncos os nomes dos netos ilustrados
Rodia na cabeça e lata equilibrada
Andava pelo trieiro pra ir ao poço buscar água
Pra não derramar, por cima ramas eram colocadas
Água fresca coada, num pote de barro
Sobre a tampa, dois copos bem areados
Cobertos com um pano de prato bordado e alvejado
Recordo do aqui relatado e algumas coisas mais
Sem falar dos belos causos por meus avôs contados
Pena que tudo esvaiu por entre os dedos do tempo
Os velhinhos partiram cada um no seu momento
E aos poucos se esmaeceu a beleza do recanto
Hoje em resquícios de ruínas e tomado pelo mato
É cenário imaginário nas mentes dos personagens
Isso é um fato! Esmaeceu-se o recanto amado.