O TREM DA MADRUGADA

Sempre na madrugada

Meu pai, um a um ia acordar,

Dizendo: acorda meus curumins

Que tá chegando a hora de viajar.

 

E no silêncio enternecedor da rua,

Sonolentos, caminhávamos devagar,

Apressada, a minha mãe reclamava:

Rápidos, meninos, já é hora de embarcar.

 

A pequena cidade toda às escuras,

Somente a luz da lua a nos guiar,

De longe ouvia-se um apito estridente

A Maria fumaça acabava de chegar.

 

Na plataforma da estação todos apostos,

Logo o trem de passageiros acostou,

Meu pai com os bilhetes foi chegando, e,

E no primeiro vagão fomos se assentar.

 

Em pouco tempo, a locomotiva apita e vai,

Nos trilhos, o trem majestoso segue veloz,

Na beira da linha, o aceno alegre de quem sai

Logo cedinho com a enxada no ombro, trabalhar.

 

À janela, todos de uma vez, queríamos ficar,

Pois, em mais uma estação o trem iria parar,

Meu pai rapidinho se apressava para comprar

Broa e colchão de noiva para todos merendar.

 

Novamente, o apito da Maria fumaça,

Em outra estação acabou de chegar,

Gente descendo, outras subindo,

Uns chegando e outros partindo.

 

E assim, queimando lenha, lá vai Maria

Soltando fumaça por todo o sertão

Já da janela, meus pais, sorriam felizes

O trem chegava, à nossa esperada estação.

 

(fátima fontenele lopes)