A CHUVA
Chovia, numa insólita tarde,
chuva gostosa, bendita, esperada,
mansa sem alarde,
e ali espiando pela janela,
vendo essa água desejada,
caindo translúcida,
beijando a terra dos sofredores,
lavando os pecados,
removendo a poeira, a sujeira
dos pecadores,
e da vil tirania,
embeveci-me com a cena,
destes alegres pingos,
numa poça pequena;
De repente a chuva parou,
o sol se fez, e com soberania,
impôs sua eterna lei,
a água furtiva, rolou
e pelo chão se infiltrou,
escondendo-se do astro rei,
neste momento, não sei porquê,
lembrei-me de você,
bateu um certo quê
de nostalgia,
talvez mágoa,
de um certo dia,
de um certo adeus,
de um coração ferido, perdido,
confuso, partido,
e neste devaneio,
percebi, como a chuva que cai,
e escoa,
o amor sem cuidado,
com o tempo voa
e lentamente se esvai ...