Tip, my little one.

Katya Letova,
aonde tu vai,
eu queria estar.

As marcas que deixou sobre o chão,
acobertando um pobre e pequeno coração.
Esse homem aqui já não tem onde cair morto.
E na solidão do meu quarto,
se decompondo,
crio tantas raízes,
que saem dos cobertores
a fumaça do cigarro em sua boca.

Tantas anos que passei,
projetando alguém em minha mente,
já falha.
Me sinto descontente em lembrar que nunca poderei te tocar,
te olhar de perto,
sentir todos os versos que saem de seus lábios quentes.
Tão madura,
ao virar meia garrafa de cerveja pura.

São 4 horas da manhã,
minha luz ainda continua acesa.
Mergulho nesse mundo
que me deixa um pouco mais à tristeza.
Sonhei,
como todo bom homem
[que sonhava ter uma esposa e se casar],
sonhei.

Imaginei sua pele,
sua voz,
a primeira vez que escutei você cantando,
como uma Ocarina no meio de um bando de plumas em um arrozal.
Como o demônio me chamando pra mais um trago,
para mais um copo.
Procurando teu corpo vestido em um sorriso tímido.

E eu, desajeitado do jeito que sou,
perco as horas do dia,
perco os sonos da noite.
E te perco, sem você saber que lhe tinha.
Não somos donos da vontade, pequena.


Olhar pra você é como a leveza de um carro
trocando de marcha,
naquele exato momento que você pisa no acelerador e sente que está voando.
E minhas asas, bom,
elas estão cansadas de mais pra tentar algo novo,
não aguentariam ir tão longe assim.

Num lugar diferente,
com uma língua diferente,
com corpos diferentes.
Uma terra com uma bandeira que nunca pisei,
dizem que falam gritando
com alto e bom som.
O que me resta é te deixar em meu mundo imaginário,
te aplaudir de pé ou sentado,
não importa.

Pegue seu ukulele e toque uma corda,
solte suas notas,
me torne sua partitura.
Sempre foi o melhor som
que pudera ouvir.

Katya,
me permita ousar,
me sacuda até eu acordar.
Navegar contra a correnteza de quem já sabe onde vai parar.
Letova,
sinta meu aceno de longe,
comovente como um adeus de semblante.
Talvez esse nem seja teu nome de verdade.

Te projetei como em um filme,
e não participo dessa história.
Não assisto nenhuma cena,
não sei exatamente se é real cada fragmento em rolos de 8 mm.
Mas dentro de você sempre teve algo que me contagiava,
me tirava do sério.
Um áurea leve, como algodão de um travesseiro.
Um sentimento verdadeiro,
atrás desse rosto
um tanto quanto ingênuo.

Todos os versos que escrevi,
nunca foram tão reais quanto esse.
Era diferente seu ser humano,
de todos os outros.
Teu olhar
me penetrou.
E não era como você imaginava nos teus sonhos.