Sra. Carpeaux
Eu nunca falaria sobre isso com ninguém.
A gente sempre está sozinho
nessas horas.
Era uma vida tosca
e ela era apenas uma mulher bonita,
nada mais incompatível
se relacionada a mim e àqueles dias.
Eu tinha ratos nos calcanhares
baratas por companhia
e cântaros cheios de ânsias
e sonhos irrealizáveis,
estava tão fudido, mas tão fudido
que se conseguisse imaginar
teria estourado os miolos,
não, não, não, eu era a curva no Rio
do Cordeiro, até minha mãe
teria concordado
com minha desgraça.
Resistir é uma doença crônica
e fui mais longe do que deveria.
Eu nunca me esqueci
daquela noite e sua música
me lembro da luz brilhante
na janela da Sra. Carpeaux
e me lembro que escureceu
enquanto eu estava sentado
na rua e olhava
e agora, mais de vinte anos depois,
ainda me lembro de cada nota da música
a vagar no ar parado da noite,
a única coisa é que não me lembro
mais como tocar, mas estou com sono
está quase na hora e esta já é a memória
de outra história.