Retalhos de Mim
Olhos abertos..., ouvidos atentos.
Ouço risadas..., mas há gritos.
Escolho as risadas..., escolho sonhar.
A semana passa..., chega o assombro.
Os gritos aumentam! As risadas se apagam.
Fica(va) tudo tão tenso...
Vou pra debaixo da mesa.
Eles me amparam.
Ainda assim..., tenho medo.
Só escuto..., não vejo..., não sonho.
A mesa se encolhe..., eles se vão...
Estou só. Bloqueio o medo.
Meu poder é a raiva.
Eu agora sou ele.
Fujo pra rua.
Entorpeço e esqueço.
Está frio..., mas é noite..., posso ver as estrelas.
Volto a sonhar...
Sonho insano..., outra vez.
Me torno o problema.
Os gritos são mudos.
Todos sofrem por mim..., mais por si.
Ilusões de um porvir.
Quem sou ou serei..., já não sei.
Riem de mim...
Não importa.
Aceito.
Ouço risadas..., me chamam de volta.
Volto. Estou aqui...
Está tudo aqui.
Sevilha é a mesma.
Ouço gritos...
Estou mudo..., não surdo.
Estás protegido..., disse-me irônico.
Estou sim. Sempre estive...
E agora sou bobo.
Estou convicto.
Tudo que passei, foi para ser... bobo.
Estás certa..., Clarice.
Há vantagens em ser bobo.
Ipatinga, 27 de março de 2021.