Sobrado
lembro daquelas vielas com um saudosismo incomum,
paredes sujas, carros velhos, pessoas viviam ali sem luxo algum;
portaria semiaberta, caminho torto que sempre me enganava,
e no segundo andar, eu sabia, que ansiosa, era onde ela me esperava.
do lado de fora era receio, desconfiança e incerteza que sentia,
lá dentro era sentimento forte, de paz e sorte que meu peito preenchia;
lugar acanhado de cômodos pequenos, de gestos serenos e alegria repentina,
gostoso é lembrar, podendo vislumbrar o toque e o sabor do amor feito na surdina.
mas como foi breve nossa morada, se é que posso assim descrevê-la,
e como toda felicidade, chegou e partiu com brevidade, para que pudéssemos entendê-la;
deixando o vazio pra trás, também ficaram as memórias e recordações,
são estas que assombram minha solidão, é cada tentativa em vão de se esvaziar dois corações.
hoje me pego pensando: quem será o felizardo que naquele canto nos sucedeu,
total e plena ignorância, sem dar a devida importância ao amor que em outrora ali ardeu;
não se entra ali como em qualquer outro lugar, não sem antes mensurar o valor que tem um abrigo,
quando se fecha a porta, nada mais importa no mundo la fora, pois é lá que mora meu sobrado de nome jazigo.