A CHAMA
A chama de um isqueiro quando se acende
Nasce pequena, meio tímida,
Lançando seus cabelos ruivos de um lado a outro,
Olhando com seus olhos azuis e crescendo...
A pedra fósforo risca a mãe, e,
Com aquele gesto preciso de um polegar calejado e experiente,
fornece a chama e o gás que em combinação
com o momento único e instantâneo
Fagulham a labareda lambiscando
O metal e o plástico que lhe deu vida.
A medida que o gás a alimenta
Lateja em seu coração frio
Uma vontade incrível de ser consumida para sempre
Ou ate que todo o seu gás esgote.
Nasce pequena, distante, do fundo do nada,
De uma simples nota de um violino
Que caminha nas cordas, sob dedos ágeis,
Atingindo escalas cujos comprimentos sonoros
São ouvidos apenas por chamas solitárias
Que se apagam a medida que o concerto vai cessando.
Esta já atingira as alturas,
Já queimara por algo a se lembrar,
Já trebilitou noite adentro em sons aflitos,
Em um piano com toda a sua vida amostra
Ouvindo seus silêncios ou o silencio que arde quente
Em beijos suados do calor de sua chama.
Tudo se queima,
O metal a labareda,
A seqüência de segundos passantes e transeuntes,
E o dedo, que assistira todo o seu calor
E agora se despede esquecendo a chama.
Serviu a que se propunha,
A vela fora acesa.