Tico-tico
Hoje o tico-tico veio me visitar
Seu canto melancólico
Denunciante de tristeza em trânsito
Num caminho impenetrável de anos
Tentei pelas frestas da minha gaiola observá-lo
Em vão, não o vejo
Por sua pequenez, suas penugens camufladas
Que se misturam aos ramos e vira paisagem
Cores idênticas ao tempo, ao clima e a vida
Vida esta que nos trouxe até aqui
Confrontou-nos, colocou em posição antognicas
No passado perseguido
Seria agora um perseguidor?
Não, claro que não!
O tico-tico lá do alto entre as folhas
Repete seu canto triste e tenta através dele
Afastar-me da depressão
Traz um alento, um sorriso
Uma era que fui feliz
E não sabia
Continue daí tico-tico
Que sigo aqui agradecido
Por sua visita
apegado a minha vida
Aprisionada nesta gaiola
Imposta pela circunstância pandemica
Anêmica, que espero não aniquilará
A raça humana antes da sua
Tenho fé, esperança ainda
Que isso não vai acontecer! Será?
Louvado e bendito seja tico-tico
Tico-tico, tico-tico, tico-tico...