As aulas que faltei.
Peço um café.
Não era tão bom quanto parecia no desenho do papel da parede, escrito de giz verde.
Sento em seus vários bancos.
Vazios e sem charme,
com encostos duros e irregulares.
Suspiro o ar de fuligem das frigideiras virgens.
Não sei quanto a vocês, mas,
às vezes saio sem rumo algum.
Em qualquer direção que me levar, está bom.
Aonde parar, já é o suficiente
pra encontrar novas ideias,
novos poréns.
Não fico tanto em lugares assim,
na realidade não fico muito em lugar nenhum.
Eles enjoam de mim rápido,
e eu deles.
Saí.
Em passos lentos, porém largos.
Emanando o último cheiro
daquele estabelecimento cheirando tabaco.
Se movendo contra aonde meu corpo queria ficar,
por um bom tempo.
Passando despercebido o reflexo de mover o pescoço
tendenciosamente pra trás.
Pra olhar aquela silhueta,
que lentamente desaparecia atrás do balcão.
O lugar todo cheirava café fresco e pão.
Guardo meu livro no bolso direito.
Tenho várias ideias malucas de como te falar que:
queria ficar sempre aqui nesse lugar.
Mas continuo dando passos à porta que não se abre automaticamente.
Giro a maçaneta.
No reflexo do retrovisor,
vejo seu cabelo se desprendendo outra vez.
Mais um lugar,
e mais alguém que nunca percebeu
minha inotável
e indiferente presença.
Ligo o motor,
engato a primeira.
Vou embora daquele erro na geografia do mapa.
De relance, lembro das aulas em que faltei na escola.
Nunca me fizeram falta,
desde que eu tivesse aqueles faróis baixos
ao contar toda e qualquer história
que não estivesse dentro dos livros que rabiscava.
- Hudson Henrique.
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