Linear.

Seus olhos

de gato siamês.

Suas mãos pequenas.

Tudo tem um pronome pra dor.

Quando não é a cerveja, são belas silhuetas.

Tudo tem razão pra acontecer

e deixar de ser.

Simplesmente,

agora com mais idade que adquiri,

entendo que não podemos mover nada a favor de nós.

Os veleiros andam pra onde o vento leva,

e tudo que me veio à favor me trouxe contra as pedras,

contra as paredes de cimento cinza.

Me encheram de areia os bolsos e pés.

Me afundaram junto a baús cheio de vento e nada.

E o nada é o suficiente pra qualquer um querer virar as costas,

se mandar de qualquer lugar

que haja pessoas ao redor.

Aqui, comigo,

canto canções de solidão,

um dia fosse tudo tão claro,

poderia olhar pra essa janela ao amanhecer,

e ver como tenho sorte por ainda respirar.

Com o tempo que me desprovi,

dando corda pra algo inevitável.

Pra minha altura, pro meu corpo oscilando,

temos algo que nunca vamos poder mostrar

por ter escondido de todos: quem somos de verdade.

Quando descobrirmos quem queríamos ter do nosso lado, a todo o tempo,

já vai ser tarde, os respingos e suspiros dados nesta tarde,

serão o suficientes

pro relógio ver que é tarde.

- Hudson Henrique.

Da obra: Somos todos anjos, bêbados demais pra tentar voltar para casa - Disponível no Amazon Kindle!

Site oficial: www.hudsonoficial.com