Fuligem.

Me pergunto se imaginaria

Numa tarde qualquer

Limpando a fuligem da vida

Não saber-lhe a causa

Sem querer saber-lhe a origem

Nunca mais fixar-me no assunto

Eu, a vida e os calendários de papel

Papel que queimou quase sem razão

Pela simples razão de ser feita de papel a vida

Hoje, rabiscada e corroída

Já não dá pra entender quase nada

Coração se cala, de papel passado

Que de tão passado se queimou, virou fuligem

Ao tentar deixar lá no passado da gente

É que então se percebe

Irremediavelmente junto a nós

Para um dia cavalgarmos juntos

Numa estrela sem céu

De outro céu sem estrelas

Mais um, de tantos que a vida deu

Quão distante a alguma madrugada

Rumo a uma tarde qualquer

Limpando a fuligem

Sem sequer saber se me perguntaria.

Edson Ricardo Paiva.