Paralelas

Paralelas

(Para Vanusa)

Naqueles tempos que não voltam mais,

Na TV, em branco e preto,

Aquela deusa loira brilhava;

Nem era tão bonita assim,

Mas aquela música tinha um quê

Que lá no fundo nos tocava:

"E as paralelas dos pneus,

Na água da chuva,

São duas estradas nuas

Em que foges do que é seu..."

Eram outros tempos...

O sorvete tinha aquele sabor que não tem mais;

A praia era a praia e o som do mar se refletia na concha,

E achávamos que as ondinhas do mar nos puxavam para longe.

E a pamonha na praia tinha aquele sabor divino e infinito,

Como o pisar na areia úmida e a água brotar ao cavar um buraco.

E o mundo era uma bola azul em que se juntava ao azul do horizonte.

Igual às paralelas dos pneus, que se encontram no infinito,

"No Corcovado, quem abre os braços sou eu,

Copacabana, essa semana, o mar, sou eu...

Como é perversa a juventude do meu coração

Que só entende do que é cruel e do que é paixão..."

Ângelo Ranieri

(Com Belchior)