Coisas que não crescem

Eu preciso voltar lá, resgatar os pedaços do “sem nada para fazer”;

Sem me sentir culpada por algo que não deveria dizer.

Aqueles momentos que deveria estar, em casa, lendo. Cama, rua, brinquedo, estudo, letras tortas escrevendo.

Não entendo o porquê tudo isso muda, ao invés da fantasia virar realidade, a realidade passou a me encher de dúvida.

Acabou? É isso mesmo? Café na mesa, feijão no fogo, pai me leve pra praia? Todo aquele mimo de mainha. Alguém pega minha toalha?

Não senti. Confesso que rezava para meu corpo estirar, sem saber eu que todo o meu sossego iria acabar.

Não está tudo bem. Como assim tenho que seguir regras sem ser perdoada por ser imatura demais?

Como assim posso andar por aí sem ter medo que minha mãe descubra.

Acabaram os doces gratuitos, as especulações sem vivência, sobreveio a fase adulta.

Meu "Nescau" eu faço e nem fica tão quente assim, meu “miojo” ficou mais rápido, as pessoas não dizem “fica quieta” pra mim.

Meus pares de sandálias não são trocados a cada aniversário meu. Meu pé parou no 38, meus dentes não caem mais, o corte no dedo não doeu.

Não me disseram que seria tão passageira, ainda guardo as boas lembranças do meu mundo perfeito.

Não sou mais a inocência, os boletos chegaram, não sinto mais o iludir;

E por sinal, trabalho amanhã, hora de dormir.

Maísa C. Lobo, 17/06/2017.

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 24/10/2020
Reeditado em 16/11/2020
Código do texto: T7095092
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