Minha mãe (não) morreu ontem...
...nem anteontem, nem tresantontem...
Todo dia minha mãe morre...
Sempre pela manhã, na hora do café
Todo dia, a falta do pó, do coador...
Ela chamando alto pra levantar...
"O sol vai passar por cima de vocês"...
"As galinhas já estão no terreiro"...
"O jegue já está comendo capim"...
E eu espreguiçando, querendo dengo,
e ela ativa, feito espuleta, na lida...
E cantando, e sorrindo, e chorando...
E lembrando da infância, e da mãe,
que morreu de parto, dela...
E eu no privilégio, sem valorizar,
sem entender a importância,
de cada puxada de orelha, cada chinelada...
E ela dizendo
"Um dia, quando meus males forem velhos, o de alguém é novo"...
E agora, toda manhã, sem o cheiro do café, sem a colher chacoalhando na panela de esmalte gasto,
eu sinto falta da chatice, das ranzinzices, das caduquices...
...nem anteontem, nem tresantontem...
Todo dia minha mãe morre...
Sempre pela manhã, na hora do café
Todo dia, a falta do pó, do coador...
Ela chamando alto pra levantar...
"O sol vai passar por cima de vocês"...
"As galinhas já estão no terreiro"...
"O jegue já está comendo capim"...
E eu espreguiçando, querendo dengo,
e ela ativa, feito espuleta, na lida...
E cantando, e sorrindo, e chorando...
E lembrando da infância, e da mãe,
que morreu de parto, dela...
E eu no privilégio, sem valorizar,
sem entender a importância,
de cada puxada de orelha, cada chinelada...
E ela dizendo
"Um dia, quando meus males forem velhos, o de alguém é novo"...
E agora, toda manhã, sem o cheiro do café, sem a colher chacoalhando na panela de esmalte gasto,
eu sinto falta da chatice, das ranzinzices, das caduquices...