90-90.
Viro a noite e o volante.
Viro garrafas, trago os cigarros.
Minto sobre onde estive e aonde vou.
Te ligo a cobrar.
Te cobro do que você nunca me deveu.
Lhe pago o preço com angústia e tormentos.
Não coloco fermentos, nem acréscimos.
Apenas descontos de todo esse alvoroço.
Fico sem bateria.
Fico sem estrada, e você perdida.
Faróis altos pra um nada,
cabeça baixa pra mansarda,
misturada com travesseiros e espelhos.
Morei no sótão por um tempo.
Sou tão, sou roteirista dos dias que se passaram.
Sua voz do outro lado da linha,
era uma ligação, uma ligação interurbana.
Dançamos em nossos próprios quartos,
sozinhos e solitários, apagados como a escuridão negra
abraçando meus olhos pelo telhado.
Meu cabelo há tempos não existe um penteado.
Me engano ser ainda um menino,
pendurado pelos estrados do mezanino.
Você me manda várias mensagens,
dizendo como está, como se sente.
Eu finjo que não vejo, e sigo meu caminho,
ainda sentindo seu desejo.
Seu cheiro no banco do passageiro.
A vida tinha seus momentos.
Enquanto você descascava
bergamotas nos olhos do sofrimento.
Hoje fumei cigarros
enquanto olhava a noite.
E caixas de fósforo eram acesas
na eternidade de suas lembranças.
As cinzas ficaram ao chão,
até a chuva lavar seus olhos de faróis calmos.