Velha Infância Em memória de Moisés de Gois

Na praça não tem mais o coreto

E os brinquedos, trocados por bancos frios de concreto , esmagam o sonho e deixam à dor para o poeta sonhador

A piscina com peixes já não existe

O vô Ludovico , o pipoqueiro partiu ...

E na construção da avenida

Derrubaram às árvores por onde nos escondiamos até o fim de tarde ...

A casa da mangueira está lá ! mas diferente ... e o perfume de manga ainda sinto da esquina com as ruas Quito e Santa Basilissa

A fruta mais gostosa é aquela que a gente precisa enganar o cachorro pra pegar

E na vã tentativa de renascer

Ainda lembro de você

E daquele coração de seiva no quintal onde cresci

A padaria da esquina permanece mas o Ferrugem não vive mais lá .

O barbeiro Joinha morreu e a feira continua no dia de Domingo , o dono do bar que já enterrou muitos clientes, continua sua missão de coveiro

A rua de paralelepípedos ainda leva a ' Fazenda ' , no Couto não tem mais cheiro de cortune

E as Palmeiras gigantes são quase nada e elas não assustam mais nos fortes ventos , quando a chuva nascia e morria em cada esquina

O IAPI cercado por muros tristes , outrora , um campo fertil de ' guerras de jamelões ' e camisas manchadas , seus recortes de ' montanhas ' descíamos em ' trenós de papelões ' e os ' inimigos ' eram rendidos pela Turma da Fumaça

Descer a rua correndo era praticamente um par ou impar , e valia cada um por si ou em duplas , quem chegava em primeiro no final nunca conseguia voltar na mesma posição , então valia bicicleta, patinete , rolimã, carrinho de mão e Havaianas nas mãos ... o que importava era chegar sujo , fedido e cansado em casa e se por ventura não estivesse os pés , cotovelos , canelas ou joelho como um ralador , já era a gloria da vitoria ! o Merthiolate era o pior inimigo de todos ! Depois da chuva é claro !

E na vã tentativa de reviver

Ainda lembro de escrever seu nome no quadro negro

O silêncio cortante da rua

As folhas mortas nos bueiros

Os brinquedos abandonados da praça sem árvores e flores , sem gritos e festa , sem risos e abraços

A ausência das cadeiras nas calçadas

A falta da carrocinha de pipoca

O silêncio do vira latas que corria atrás do carroceiro

A Kombi que passava vendendo Tobi com as portas amarradas com arame das trincheiras

Eu sinto que o vento agora sopra árido e cansado

O que foi feito de tanta alegria?

Ainda lembro quando ficávamos deitados a noite e víamos tantas estrelas, que eu contava as suas e você as minhas ...

E tinha as noites que os relâmpagos brilhavam na janela do quarto e torciamos pra acordar com todos os bichos do quintal , porque isso era sinal de sol !

E na vã tentativa de reconstruir os dias , lembro de pegar em sua mão pela primeira vez no cinema e de como me sentia tão forte quando te pegava no colo ...

Hoje, caminhando sem pressa por onde vivemos, compreendo o quão feliz fui em dividir com você o pouco tempo de nossas vidas !

Tudo de verdadeiro permanece intacto e vivo em nós, e o tempo é um inimigo que não envelhece nunca , mas o amor é a essência da fé e o perdão é a cerne da vida , você está em mim e eu estou em você !

Luciano Moska
Enviado por Luciano Moska em 23/08/2020
Reeditado em 17/09/2024
Código do texto: T7044345
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