Recôncavo


Somente a memória
há de conservar as manobras da vida,
apesar de terem manchado
a plataforma dos seus beijos.
Somente na memória
o desespero poderá fazer sua festa,
com passos tão lentos
que o cansaço há de compor
na dança roubada, a dama,
aquela que explodiu o pensamento,
quebrou a grade, e partiu.
Partida de ferro, quebrada do silêncio.
Só a memória
falará aos arrepios,
contando histórias,
tecendo fios,
balançando redes,
ganchos vazios nas paredes.
Nos murais da lembrança,
o retrato que falava das tardes
no sorriso das manhãs.
Nas noites, as saudades,
e pela madrugada, o absoluto silêncio.
Somente a memória será capaz,
será dona de tanto amor,
que o vapor,
a brisa do tempo carregou
na mala, na bagagem que guardei.
E sem ressaibos faço o presente,
no tanto da memória.