A vida velha

Entrei nessa casa abandonada,

Pedindo licença, encabulada,

Visitando cada canto,

Cada resto de vida, humano e santo.

Os sapatos, ah, os sapatos!

Junto à cama por fazer,

Como se dali pudessem calçar

Os pés de seu dono, andar...

As latas na prateleira,

A xícara, a chaleira,

Uma mesa que serviu comida,

Uma cadeira carcomida...

A penteadeira de mulher,

Um espelho que sempre a viu,

Um vestido florido, uma fita de cabelo,

E o vidrinho de perfume que muito lhe sorriu.

Mas as cartas de amor, ai meu Deus!

A vida ali definida!

Verso por verso em feridas,

De coração que doeu...

Ai, as cartas, não sei não!...

Queria sentir-lhes o cheiro,

Acariciar suas linhas,

Beijar, tocar, sentir o amor derradeiro...

Junto delas, muitas das fotografias,

Rotas, estragadas, amarelas.

Uma garrucha e o cachorro perdigueiro,

Cenas de festa e de pompa muito belas.

De novo, deito os olhos nas cartas...

Meu coração doeu...

Quero calar sua boca com um beijo,

Guardar seus segredos, enterrar, enfim, seus desejos!

(Fiquei muito impressionada com a história da casa de campo encontrada, abandonada, na Irlanda).

https://casavogue.globo.com/Interiores/Ambientes/noticia/2020/06/fazenda-abandonada-na-irlanda-e-encontrada-com-itens-historicos-intocados.html

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 30/06/2020
Reeditado em 30/06/2020
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