Apego
Anuviada genese instintual
Manchada por ebônico pigmento
Das telas de um cego bouguereau
Herege do mais desejado alento
Ao entrar no nume da'lma o museu
Vi pelas salas espelhos somente
Refletindo claro o grito de Romeu
Ao ver Julieta esvaecente
Chocante ilusão do carmíneo amor
Que faz dobrar-se feixes e estrelas
Qual sonho que de José findou
Na'escravidão e sofrimento apenas
Ó, minha alma, em uníssono comigo
Concorda esta vez unicamente
Que as magóas que conduzo aflito
Me não perturbarão novamente
Mete na pá do mundo todo o sal
Que assassina a flor e seca a planta
Mete inda na raiz o branco cal
E ceifa finalmente a Esperança
No augusto solo, no argênteo mar
Onde acorrentados criei meus monstros
Lança a tigela da ira de Jeová
E sopra a morba flama nesses antros
Agora
Na praia, bate-me no pé a onda
E toda ira que calculou meu ser
Obumbra a areia. Retorna e Estronda
A água com teor de entorpecer
Acima,
Logo mesclam-se de rubro os tons
Do sol altissonante que a rir se tolda
E noturnas aves augurando sons
As cenas todas que meu ser emolda
Rasgarei:
Esses versos desestruturados
Filhos de transtorno animalesco
Velhos fragmentos desordenados
Revestidos de adorno brutalesco
Amanhã.