Apego

Anuviada genese instintual

Manchada por ebônico pigmento

Das telas de um cego bouguereau

Herege do mais desejado alento

Ao entrar no nume da'lma o museu

Vi pelas salas espelhos somente

Refletindo claro o grito de Romeu

Ao ver Julieta esvaecente

Chocante ilusão do carmíneo amor

Que faz dobrar-se feixes e estrelas

Qual sonho que de José findou

Na'escravidão e sofrimento apenas

Ó, minha alma, em uníssono comigo

Concorda esta vez unicamente

Que as magóas que conduzo aflito

Me não perturbarão novamente

Mete na pá do mundo todo o sal

Que assassina a flor e seca a planta

Mete inda na raiz o branco cal

E ceifa finalmente a Esperança

No augusto solo, no argênteo mar

Onde acorrentados criei meus monstros

Lança a tigela da ira de Jeová

E sopra a morba flama nesses antros

Agora

Na praia, bate-me no pé a onda

E toda ira que calculou meu ser

Obumbra a areia. Retorna e Estronda

A água com teor de entorpecer

Acima,

Logo mesclam-se de rubro os tons

Do sol altissonante que a rir se tolda

E noturnas aves augurando sons

As cenas todas que meu ser emolda

Rasgarei:

Esses versos desestruturados

Filhos de transtorno animalesco

Velhos fragmentos desordenados

Revestidos de adorno brutalesco

Amanhã.

Anac Rocha
Enviado por Anac Rocha em 14/06/2020
Reeditado em 05/06/2022
Código do texto: T6977011
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