Minha cachoeira

O som do passado,
Em pessoas marcadas,
Presença da natureza.

Natureza de árvores amigas,
Antigas companheiras,
De longas reflexões.

O fio de uma aranha,
Pende, flutuando, enlaçada,
Uma futura borboleta.

A luta desigual
De uma natureza precisa,
Onde a água só perde para o sol.

Os pássaros cantam,
Os besouros, vespas e abelhas,
Passam tinindo em transito livre.

Nas folhas multicoloridas,
Na pedra bruta e continua,
A próxima flor a ser beijada.

As árvores, as pedras desenham um labirinto imutável,
Onde águas em longas tranças brancas,
Escorrem sem parar por incessantes milhões de anos.

Minha vida na grande pedra,
De criança a quase poeta,
A pedra, a moradia, a comida, a dormida, meu amor.

Marcado em granito translúcido,
Nos vôos incertos de borboletas azuis,
Nas folhas, nas árvores...

Nesta densa mata que não consome nunca,
Seu amor pela rocha.
Nos raios ensolarados refletidos no peixinho que pula contra correnteza.

Água, doce água que de ti banhei e tomei,
Carregas meu pensamento, minhas vontades,
Meus sonhos presentes.

Este homem que se esforça para modificar
Aquilo que lhe pertence,
Não consegue ser aquilo que faz.

A cachoeira,
Eterno movimento,
No quadro estacionário.

Tempo presente,
De águas futuras
E pedras passadas.

És a rima do destino
A forma clara desatino
O chão grito pergaminho.

O caminho que me escreves
A poesia que me deves
A vida não mais que percebida
.