Menina esquisita

Dona de ideias não convencionais

Desde muito cedo ela descobriu

Que ser ela mesma talvez custasse mais

Que se explicar a quem se iludiu.

Viveu uma vida se descobrindo

Mas o que viu não mostrou pra ninguém

Era toda diferente, quiçá esquisita

Não queria ser motivo de desdém.

Uma menina que amava eletrônica

E escondida ouvia seu rocknroll

Uma adolescente nos anos noventa

Difícil achar quem não a julgou.

Cadernos de letras intermináveis

Das músicas que pareciam a descrever

Tocadas num velho rádio ao fim da tarde

Sessenta minutos de raro prazer.

Carregava o orgulho de ser boa aluna

Excelente fama que todos exaltava

Mas ela não sabia até onde era glória

Ou se a responsabilidade no fim a tragava.

Gastrite ainda na infância

Labirintite, ansiedade, unhas roídas

Uma mãe que em meio a tudo se foi

Restaram cápsulas e tarjas coloridas.

E a menina esquisita reprimiu-se

Pra seguir o curso da vida normal

Aquela que muitos acabam vivendo

Começa e termina exatamente igual.

Mas basta um gatilho e ela ressurge

Como uma gripe que foi mal curada

Me fazendo imaginar que é dela a voz

Que me assopra rimas toda madrugada.

[fica mais um pouco, pra gente se acertar]