Memória de uma infância
Aqui cabe nesses versos
Repetidos na memória
Uma infância sem fortunas
A vida, ela somente:
A sua única herança.
Uma saga de menino,
O trovador do interior:
Um desafiador intrépido
Às curvas e seus relevos;
Imaginação despida!
Das terras dos sabiás
Ainda na sua pequinez
Entre tantos invisíveis
Como endereço só o vento
Migrante sem um destino!
Companheiro do silêncio
Triunfante sem posse ter
No seu soterrado chão
Assovios, aboios... seus medos;
Era tudo pensamento.
Desconhecedor das letras
Amigo das estações
Crescer com os pés na terra
Onde nasceram irmãos
E bem-te-vis a cantar.
A natureza letrada
Suor de sal regava a terra
Germinar da fé e feijão:
O campo puro acalanto
Nutrição da sua paixão.
Um lamento na metrópole,
Vagante do vil espaço,
Rios a tinha como prole
As primaveras em grãos
O diário duma penúria.
Povoado treta do agora
Pérola da periferia
Pousada angustiante
Estranho, seria viver;
Antes, sim querer triunfar.
O cancioneiro sol, só
Testemunha do lutar
Desigualdade social
Por ruas afins, caminhar
O cobre - ouro encontrar.
Lentidão contemporânea
De janeiro até dezembro
A corte de vestes nobre
Dentre todos conterrâneos
Sem capital - um bode.
Um bode na sua atravessia.
Desdenha, bodes infiéis
Eles, bodes da história;
Filhos da sua insanidade:
Capital explorador.
A lua sua fiel escudeira
Refletida a face pálida
Uma estampa telepática
Na busca de um cruzado
Para sua fome saciar.
Estrelas sua companhia
Esconder da luz do sol
O cantar grave dos galos....
Quando possível cantar!
A teimosia seu vintém.
Inexistindo ternura
A janela da memória
Entre caminhos e rios
Mares de lágrimas [sangue
Desaguaram na sua infância.
Enchentes, nuvens [fumaças:
de gente e aço com pólvora;
Uma lembrança fatídica.
Arte forjada no pranto!
Continuo: ser arte-infância.