Silêncios
Silêncios.
quanta coisa desaparece para sempre como o primo
com quem dividia as goiabas da casa da avó e que sempre foi mais alto e forte
seja nas tardes em que estourávamos com os dedos os buracos de caranguejos filhotes
seja na noite em que estouraram com a faca três ou quatro órgãos do seu ventre na praça
em que ele comprava crack do dono do bairro pouquíssimo interessado na televisão do tio na geladeira da cunhada
dia ou outro me pergunto se chegou a oferecer o presente que eu dei quando éramos moleques
e o que o traficante dissera para rejeitar o pen drive cheio dos roqueiros emotivos
talvez não valesse, bem verdade, nem o preço de duas buchas de dez
o trabalho de uma tarde selecionando linkin parks e charlie brown jrs para ouvir em casa depois de todos irem dormir
hoje mais mortos que o próprio primo
que sobreviveu às facadas mas foi embora fugido
e nunca mais mandou um oi.