DA CONCEIÇÃO A CRUZ DE MINHA INFÂNCIA
Da minha Cruz, quero a saudade
de um cruzeiro em frente à Igreja
fincado por féis tropeiros.
Do seu pedestal, os meus seis anos
sonhavam com a torre e o relógio
da igreja de Conceição da Feira.
A igreja daqui, sem torre e sem relógio,
me parecia pobrezinha,
mas tinha um cruzeiro pra gente brincar.
Eu subia e descia os seus degraus,
desembestado, até que um dia torci o pé
e levei bronca da mamãe.
Era um garoto recém-chegado,
fascinado pelo apito da Fábrica Suerdieck
que me dizia a hora de tomar banho para ir à escola.
Tinha, também, a sirene do Cine Glória
que chamava para as matinês
nos domingos de super-heróis.
São tantas, tantas lembranças,
que emergem como quereres,
enchendo de alvorada o meu ocaso...
Em fagulhas de dor e de prazer,
a alma de ancião se funde à de menino;
tempo e espaço desaparecem por encanto.
Quero a casinha de bambuê,
cercada de bambuá, olê, olê, olá,
a esconder sexo inocente.
Quero o ranger de porta do armazém
e o fantasma da velha de branco
a flutuar nas ondas de cheiro de fumo.
Quero o toc-toc de meus tamancos
demandando a Rua de Cima
rumo à escola do professor Nabor.
Quero a voz de Heron Domingues
narrando a Guerra da Coréia
nas ondas do Repórter Esso.
Quero o cheiro de eucalipto
das mãos do Padre Mato Grosso
estendidas para o ósculo.
(melhor que cascudos do Padre Deraldo
em cabecinhas insubmissas
na catequese de dona Glorinha).
Quero os anelídeos sanguessugas
de pernas meninas fugidias
nos pântanos do rio Laranjeira.
Quero o branco do São Cristóvão,
nosso clube da rua do Jenipapo,
capitaneado por Tonho de Irineu.
Quero a bicicleta Raleigh,
os passeios na Escola Agrícola
e o cheiro da “fabrica de ossos”.
Quero a marinete de Baratinha
e o vapor de Cachoeira, em plena madrugada,
na aurora de luzes da chegada a Salvador .
Quero o olhar crítico do professor Noé
sobre os mistérios geográficos
e a dialética da História.
Quero o desfiladeiro das Termópilas
e o corneteiro afoito de Leônidas
no toque de avançar sobre Xerxes.
Quero o cheiro úmido do bosque
em noite de inverno frio
sagrando o ritual de passagem.
Quero os sonetos de Galeno
e as crônicas de Nelson Magalhães,
dando brilho ao Nossa Terra.
Quero a luz do candeeiro
a iluminar noites de estudos
na casa do IBF onde morei.
Quero a dormência da “prise”
de um lança-perfume Rodouro
em carnavais do Cruz das Almas Clube.
Quero rastros de fogueiras nas ruas,
balões pintando as noites frias
e o apito das espadas boca de cor.
Quero a paz do Campo Limpo
à sombra do tamarindeiro
em verões de luz e sonhos.
Quero, enfim, essas imagens
em giro caleidoscópico
nas nuvens do meu partir.
Da minha Cruz, quero a saudade
de um cruzeiro em frente à Igreja
fincado por féis tropeiros.
Do seu pedestal, os meus seis anos
sonhavam com a torre e o relógio
da igreja de Conceição da Feira.
A igreja daqui, sem torre e sem relógio,
me parecia pobrezinha,
mas tinha um cruzeiro pra gente brincar.
Eu subia e descia os seus degraus,
desembestado, até que um dia torci o pé
e levei bronca da mamãe.
Era um garoto recém-chegado,
fascinado pelo apito da Fábrica Suerdieck
que me dizia a hora de tomar banho para ir à escola.
Tinha, também, a sirene do Cine Glória
que chamava para as matinês
nos domingos de super-heróis.
São tantas, tantas lembranças,
que emergem como quereres,
enchendo de alvorada o meu ocaso...
Em fagulhas de dor e de prazer,
a alma de ancião se funde à de menino;
tempo e espaço desaparecem por encanto.
Quero a casinha de bambuê,
cercada de bambuá, olê, olê, olá,
a esconder sexo inocente.
Quero o ranger de porta do armazém
e o fantasma da velha de branco
a flutuar nas ondas de cheiro de fumo.
Quero o toc-toc de meus tamancos
demandando a Rua de Cima
rumo à escola do professor Nabor.
Quero a voz de Heron Domingues
narrando a Guerra da Coréia
nas ondas do Repórter Esso.
Quero o cheiro de eucalipto
das mãos do Padre Mato Grosso
estendidas para o ósculo.
(melhor que cascudos do Padre Deraldo
em cabecinhas insubmissas
na catequese de dona Glorinha).
Quero os anelídeos sanguessugas
de pernas meninas fugidias
nos pântanos do rio Laranjeira.
Quero o branco do São Cristóvão,
nosso clube da rua do Jenipapo,
capitaneado por Tonho de Irineu.
Quero a bicicleta Raleigh,
os passeios na Escola Agrícola
e o cheiro da “fabrica de ossos”.
Quero a marinete de Baratinha
e o vapor de Cachoeira, em plena madrugada,
na aurora de luzes da chegada a Salvador .
Quero o olhar crítico do professor Noé
sobre os mistérios geográficos
e a dialética da História.
Quero o desfiladeiro das Termópilas
e o corneteiro afoito de Leônidas
no toque de avançar sobre Xerxes.
Quero o cheiro úmido do bosque
em noite de inverno frio
sagrando o ritual de passagem.
Quero os sonetos de Galeno
e as crônicas de Nelson Magalhães,
dando brilho ao Nossa Terra.
Quero a luz do candeeiro
a iluminar noites de estudos
na casa do IBF onde morei.
Quero a dormência da “prise”
de um lança-perfume Rodouro
em carnavais do Cruz das Almas Clube.
Quero rastros de fogueiras nas ruas,
balões pintando as noites frias
e o apito das espadas boca de cor.
Quero a paz do Campo Limpo
à sombra do tamarindeiro
em verões de luz e sonhos.
Quero, enfim, essas imagens
em giro caleidoscópico
nas nuvens do meu partir.