LEMBRANÇAS... (DAS BOAS)

Dolorosas lembranças do tempo de criança,

As viagens ao interior com meu saudoso pai...

Utopia de felicidade, ó, quanta esperança!

O baque do pequi lá na chapada quando cai!

As mil muriçocas chupando o nosso sangue...

Eu pegando peixinhos coloridos no mangue!

E a vida correndo solta como uma livre gazela,

Na escuridão os passos dos jumentos lá na rua...

Ainda minha vó contando estórias de guaxinins...

Tio Elmir na CEM combatendo a febre amarela,

Francivaldo comendo carne ainda quase crua...

E eu em cima de um morro, contando os cupins!

Jocitãn no fogão fazendo frito de tripa de galinha,

Edgar cortando uma jaca mole no fundo do quintal,

Edvar no terreiro com um papagaio, dando linha...

Eu na preguiçosa de mãe Iza, com arte, tirando o pau!

E a coitada da minha vó vai sentar, cai e se dar mal...

Eu rolando no chão a dar risadas... Fiquei sem mingau!

Luisão mostra os jacus que matou em cima da serra...

Um veado e um tatu, na caçada, abatidos também,

Caçador dos bons, não perde mesmo pra ninguém!

Tio Elias aparece com banana roxa e laranja da terra,

E lá vamos nós correndo plantar no quintal de tia Bilá!

Parando na dona Loura, que um filhinho estava a velar,

Sepultado numa caixinha, debaixo de um pé de laranja.

O Mauro caindo do pé de pitomba, como remédio, canja,

Alguém sugeriu, que fosse de pintinho nascido de um dia...

O Adão e a Eva, na casa de mãe Egídia, a calçada varria!

E eu fui caçar passarinho com o Neto, filho do seu Emar,

Enquanto o Francílio do seu Bruno, ficava de nós a mangar!

Porque ele era guábi na baladeira, não errava uma sequer,

E nós ficávamos olhando de besta, babando que nem Mané...

Passava boi encaretado, passava rebanho de cabras berrando,

E a gente pra lá e pra cá, na frente deles, de bobo, brincando...

Tudo era perigoso, isso hoje a gente ver, é sim uma realidade,

Mas naquele tempo... Hum, era tudo uma grande felicidade!

Nossos anjos da guarda, coitadinho desses pobres anjinhos,

Eles só tinham sossego e descanso, quando a gente dormia!

Imagine toda essa meninada tomando banho num açude...

Subindo nas árvores para tirar os ninhos dos passarinhos!

Quebrava o galho... Caia... E quase ia pro beléléu e morria...

Arrependido! Como dei tanto trabalho ao anjo... Como pude?!

Poeta Camilo Martins

Aqui, hoje, 12.04.2014

11h11min [Manhã]

Estilo: Sextilha com rimas livres