“Maktub”

Roma, 21/03/2020

Me lembro bem

Como se ontem fosse

Tua voz sincera

Tão doce

Dizendo um velado

E antecipado

Adeus

‘Seria melhor

Ter te encontrado

Adiante’

Sentenciou

Em meus braços

E eu sabia

Que o que dizia

Era pleno de realidade

Sabedoria

A diferença de idade

A nossa imaturidade

A falta de benção

Dos amigos

E da família

Mas um idealista

Vê no impossível

Romance

Religião

Torres e dragões

Salvar a princesa

Me entorpecia

Quem precisava ser salvo

Do calabouço de mentiras

Era o ‘Eu`

A minha alma

Doente

Por esquecida

Como aceitar

Que tão lindos

Marcados de cumplicidades

E quentes momentos

Um abraço e desejos

Que se encaixavam tão bem

No meu coração

Em meu peito

Travesseiro

Traiçoeiro

E um amor

Que mesmo falho

Estagiário

Em nosso espaço

Fazia-se perfeito

Escolheu tempo errado

De fazer chão

Fazer-se fruto

E ser aceito

Não sentia-se pronta

Justo

Eu talvez

Ou menos ainda

Me sentia só

Sim

Mas não

De qualquer companhia

Egoísta

Me vesti de vítima

Perdi minha dignidade

Ou nem a tinha

E pedi a você

Algo pesado

Que não estava

Em suas mãos

Mas nas minhas

Então fui buscar

Encontrar

Uma saída

Foi quando vi

Não enxergava

Desconhecia

A liberdade

Da independência

E o valor

Da mais-valia

Não possuir

Não ser prisão

Nem prisioneiro

Amar sem medo

E sem apego

Fazer de mim

O que espero

De um segundo

Ou de terceiros

O carcereiro

Por dever

De ser atento

É mais escravo

Que seu detento

Para ser senhor

Senhor de mim

E só de mim

E dos desejos

Eu rei

Irei viver

Por mim

Por nós

Pelo Universo

Meu credo

Minha rainha

Será bem vinda

Se assim quiser

E se vier

Terá seu próprio reino

Com flores lindas

Destemidas

Maldito conto de fada

Que me iludia

Ilusão

Pensar

Que fosse

Ou seria minha

Que era teu

Que heresia

Negar aos outros

Nossa imensidão

O nosso Amor

Nosso carinho

Nossa alegria

Hoje

Navego ainda

Nos mares da dúvida

Com ondas de certezas

E esperanças que vem

Como turistas

Alguns falam

De almas gêmeas

Outros sustentam

Que elas são feitas

Uma a uma

Sem repetir receita

Em fôrmas distintas

E se procuram

Ou se cruzam

Se afinadas

Pela busca

Ou experiências

De vidas pregressas

Esquecidas

Em momentos

Como esse

De nostalgia

Isso me perturba

Me angustia

As vezes sinto

Que também procura

Pelo mesmo caminho

Em diferentes curvas

O que procuro eu

Em minha lida

Que é a cura

Do egoísmo

E outras sombras

Que tanto furtam

Nossa leveza

A gratidão

O sentido da vida

E isso me faz pensar

Às vezes sonhar

Até desejar

Que nos encontraremos

Um dia

Nas veredas e trilhas

De um continente qualquer

Ou quem sabe uma esquina

Se for

Que seja real

Sem máscaras

Truques

Ou fantasias

Já são dois anos

Do último beijo

E do abraço de despedida

Que nunca foi dado

Forte e grato

Demorado

Como se devia

Se é que venha ainda

Se era de adeus

Ou até logo

Saberemos um dia

É a vida

Em frente ao dentista

O pedido de desculpa

Que hoje entendo

Era profundo

E verdadeiro

Livre de armadilhas

Mas o orgulho

O fez sussurro

Me fez de surdo

Não insistimos

E separamos

Duas almas

Tão amigas

Sem ter ouvido

Para ouvir

E olhos para enxergar

Uma boca falante

Que por tanto falar

Tantas palavras

Às vezes amargas

Às vezes incompreendidas

Fazia sofrer

Quem as pronunciava

E também a quem

O endereço remetia

Segui com medo

Buscando ter paz

Em desespero

Magoado

Envaidecido

Por sentir-me traído

Precisava ser ‘o primeiro’

Na vida

Nos dias de alguém

Em um enredo

Ser protagonista

Ao menos respeitado

‘Eu mereço’

Era o que dizia

Mas eu mesmo

Não me respeitava

O que é que eu queria?

Esse ‘alguém’

Era

Sou eu

Meu melhor

Inseparável companheiro

De dias e dias

Talvez seja tarde

Não importa

Fiz o melhor que podia

Era o melhor do meus 'eus'

Fiz tudo que sabia

Algo dentro de mim

Gritava

Que era hora

Do quê?

Quem sabia?

Quem diria...

Era o nascimento verdadeiro

Que não teve sangue

Mas muitas lágrimas

Chegadas e idas

Linhas tortas

Perfeitas para Deus

Por Ele escritas

Era um parto

Quem partiu dali

Foi o começo

De dois seres inteiros

Que ainda não se conheceram

Quiçá conhecerão

O tempo é engenheiro

E o futuro detalhista

E hoje daqui

De um lugar

Onde nunca te vi

Não senti teu cheiro

Mas sei que visitou

E já fez fotos lindas

Vendo estremecer

O mundo inteiro

Por medo da morte

Que tanto agoniza

Penso em ti

No que passou

No que será

E nesse exato momento

Me lembro

Onde foram parar

Os meus medo?

Não tenho medo

Do fim do mundo

De transformações

Das dores e erros

Nem de passar ‘sozinho’

Os insondáveis dias

Desse capitulo

Com mais um nome

Do qual eu sou herdeiro

Tenho sim receio

Que demore tempo demais

Mais que o necessário

Para perceber

Nos perdoar

E transmutar os erros

Enquanto tenta

Fazer de tudo

Para provar

Que nada foi verdadeiro

Logo me convencerá

Que não foi mesmo

Desviando seu caminho

Da luz

Para ferir

Ou tentar

Quem quer o seu bem

Sempre quis

E que pensava

Queria ser

O seu guerreiro

Quem lutou pelos seus beijos

Sonhos e desejos

Quem fazia o tempo parar

E o sol sumir

Para ver dormir

Alguém que se transformou

Por dias

Anos

Em um mundo inteiro

Enfim

Não quero complicar mais

Nem desqualificar

O que era para ser simples

Profundo

E verdadeiro

Já que não posso falar

Olhando nos olhos

Deixo aqui

Palavras e pensamentos

Que me vieram

Nesses dias a esmo

Já disse antes

Em outras linhas

Mas reitero

Mesmo que esqueça

Ou nunca leia

Te desejo tudo

De belo do mundo

E que enxerguem

‘Toda sua beleza’

Que é imensa

Nunca se esqueça

Que seja amada

E valorizada

Principalmente

Por si mesma

Que encontre

O que procure

Que se encontre

E que não mude

Sua essência

De guerreira

Delicada e doce

Ser fria

Me perdoe

Não é a melhor defesa

E o que passou

Já tirei da mesa

Continuarei minha busca

Por paz

Integridade

Humildade

Humanidade

E por leveza

Sei que uma mulher do deserto

Busca por mim

E eu procuro a mesma

Se é você

Ou uma outra Fátima por aí

O caminho irá dizer

Com toda certeza

A única diferença

É que hoje não espero

Quem espere por mim

Em oásis nenhum

Sem buscar também

A si mesma

Nessa busca maior

Haverá esse encontro

De vidas inteiras

Rumo as Estrelas

Maktub

Está escrito

Sua vontade Senhor

Seja feita

Será bem vinda

E intensamente

Aceita.

o sarto
Enviado por o sarto em 21/03/2020
Reeditado em 14/04/2020
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