Rifa-se

Rifa-se um coração partido,

de um pobre poeta apaixonado,

que teve seu sonho destruído pelas trevas da desilusão.

rifa-se um coração de um velho deprimido.

Rifa-se um coração que há muito bate descompassado.

Rifa-se uma caixa de lembranças,

que no tempo ficou esquecida,

dentro dela estão mil sonhos das minhas adormecidas crianças.

Rifa-se um antigo livro de sonetos de Augusto dos Anjos;

um álbum cheio de fotografias da minha cidade.

Rifam-se duas imagens de conhecidos arcanjos.

Rifam-se da minha alma de poeta todas as esperanças.

Rifam-se essas flores,

que não foram dadas como presentes para as belas moças,

que pensava eu serem meus verdadeiros amores.

Rifam-se essas velhas caixas com meus brinquedos,

meus companheiros de infância...

Rifa-se um livro com as fotos da cidade.

Rifa-se um caderno com uma poesia inacabada;

que gostaria de poder entregar a outro amigo camarada.

Rifa-se uma infância passada com dias de felicidade.

Rifam-se muitos segredos,

que jamais puderam ser confessados,

muitas das minhas aventuras que foram terríveis pecados.

Rifam-se de minha alma uma centena de medos.

Rifam-se meus sonhos imortais,

os meus tempos de juventude,

toda a minha virtude ...

Rifam-se todas as recordações de bom tempo que não volta mais.

Rifa-se meu bem de valor inestimável: minha virtude

Rifam-se esses livros de Romance que pude ler,

rifa-se essa perfumada flor

que nunca pude dar ao meu único e grande amor .

Rifa-se uma caixinha de sonhares,

com esses poemas dos meus cantares.

Carlos Boscacci
Enviado por Carlos Boscacci em 07/11/2005
Reeditado em 13/04/2022
Código do texto: T68350
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