Rifa-se
Rifa-se um coração partido,
de um pobre poeta apaixonado,
que teve seu sonho destruído pelas trevas da desilusão.
rifa-se um coração de um velho deprimido.
Rifa-se um coração que há muito bate descompassado.
Rifa-se uma caixa de lembranças,
que no tempo ficou esquecida,
dentro dela estão mil sonhos das minhas adormecidas crianças.
Rifa-se um antigo livro de sonetos de Augusto dos Anjos;
um álbum cheio de fotografias da minha cidade.
Rifam-se duas imagens de conhecidos arcanjos.
Rifam-se da minha alma de poeta todas as esperanças.
Rifam-se essas flores,
que não foram dadas como presentes para as belas moças,
que pensava eu serem meus verdadeiros amores.
Rifam-se essas velhas caixas com meus brinquedos,
meus companheiros de infância...
Rifa-se um livro com as fotos da cidade.
Rifa-se um caderno com uma poesia inacabada;
que gostaria de poder entregar a outro amigo camarada.
Rifa-se uma infância passada com dias de felicidade.
Rifam-se muitos segredos,
que jamais puderam ser confessados,
muitas das minhas aventuras que foram terríveis pecados.
Rifam-se de minha alma uma centena de medos.
Rifam-se meus sonhos imortais,
os meus tempos de juventude,
toda a minha virtude ...
Rifam-se todas as recordações de bom tempo que não volta mais.
Rifa-se meu bem de valor inestimável: minha virtude
Rifam-se esses livros de Romance que pude ler,
rifa-se essa perfumada flor
que nunca pude dar ao meu único e grande amor .
Rifa-se uma caixinha de sonhares,
com esses poemas dos meus cantares.