AREIAS DO TEMPO

AREIAS DO TEMPO

- Cadê as estrelas? Perguntou dona Zilá.

Olhou o céu pensativa... Será que não moram mais lá?

Será que é culpa do asfalto? Que com o pó as cobriram?

Mas a rua era areia e mato, com tanto pó nunca sumiram

Recordou sua meninice, quando sentavam para as contar

Observou que em sua velhice, não tem estrelas, nem luar...

Antes a vida era mais difícil, a canoa indo pescar...

A mãe remendando as roupas, orando para Deus cuidar

As estrelas iluminavam a noite escura, o vento e o mar

As crianças ali brincavam e a família reunida a prosear

Havia muito romantismo, com aquele tapete dourado

Os namorados venciam abismos, trocando juras abraçados

Que saudade das cirandas, cantadas em noites assim

Agora lhe restam a varanda, e seu enorme jardim

Tem a praça em homenagem, onde voam a passarada

E tem a serra como imagem, desta terra abençoada

- O rancho está mais bonito! Disse enfim, dona Zilá

- Mas lá em cima, no infinito, lugar mais lindo não há!

- Hoje o que eu mais gosto na vida, é poder ir mariscar...

- Basta dar um assobio, pro caranguejo eu pegar!

- Amanhã bem cedo, vou pescar o meu Guaiá!

Sorriu feliz me dizendo, a caiçara dona Zilá.