Mirah...
*
Andava dentro de mim, colada ao próprio corpo.
Eu a inventei em uma noite ruminosa, dessas bem comprida de vigília.
A inventei antes mesmo de ser gesto, antes de ser alegria, dor ou lágrima.
A inventei de meu próprio sofrimento, dos recortes apagados de uma infância infeliz.
Do cheiro que nunca senti e que me persegue.
Só vens quando me dói, ou quando me és excessiva.
Em ti escondo o que há de mais autêntico em mim e mostro apenas esta, que é a minha mentira.
De um canto de mim alguém murmura baixinho:
É essa, que ninguém vê e que consegue inventar um mundo em meus lábios.
Na tua boca, menina, minha vida se inicia.