Os melhores dias de uma vida

De que adianta voltar lá se não viverei a aurora

daqueles dias?

De que adianta ficar, se aqui não viverei nada

com o mesmo eflúvio?

A constatação de que o laço foi rompido

de que o amor resiste, mas que o pulso cessou,

a certeza de que o retorno é tétrico e impossível

já anunciou a verdade com o cano do revólver

na minha testa: não tenho aonde ir.

E se desejo ir a algum lugar,

não saio de casa. Tudo que tenho está comigo,

está mim,

minha memória, o que tive e não mais terei,

tudo aquilo que quis ter e sumiu com a jornada

sob a noite veloz,

agora serão verdades silentes sob a chuva

e logo só eu lembrarei delas.

Os ciclos se fecham, todo ciclo se fecha

e os que ficarem abertos

serão adornos no caminho de volta,

pois, segundo os olhos de minha mãe,

todos voltamos para casa um dia

(embora eu agora durma

num quarto cheio de dúvidas).

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 12/11/2019
Reeditado em 12/11/2019
Código do texto: T6793157
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