ESTAÇÃO
Francisco Alber Liberato
Durante o dia
A rotina de praxe
Normalmente transcorria.
No final da tarde
O Zezinho corria
Com agilidade
A porteira do TREM abria.
No início da noite
Para lá e para cá
Alegremente as pessoas
Em sua calçada transitavam
Sua localização privilegiada
Entre o Censório
E a praça dos pirulitos
Por demais ajudava.
Nesta estação
Deitou o trilho o progresso
Eu me deitei e deitei meu coração
E fiz o primeiro verso
Durante a madrugada
Quando todos os passageiros
Já tinham embarcado
Eu desembarcava sozinho
No silêncio da cidade
E a luz da estação eu aproveitava
Para estudar.
Pois às vezes
O professor mal remunerado
Pelo estado desconsiderado
Com profundo desconforto
Planejando parada breve
Com razão estava em greve
E na minha casa
Não havia paralisação
Pense numa vida de cão
Era sempre uma bagunça
Luz adequada?
AVE MARÍA!!!
Todos gritavam
Ninguém se entendia
Às vezes eu lia na estação
E dormiam meus irmãos
Deitados na linha do trem
Sonhavam que dormiam bem
O chão era o colchão
O dormente o travesseiro
Onde eles encostavam as faces
Em frente ao Regina Pácis
Próximo a ponte de ferro
Mais um grito, mais um berro.
O que tinha dentro do cargueiro
Em saber nunca tive a curiosidade
O que tinha dentro do peito
Era um sonho guerreiro
Já naquela idade
A noite quase não andava
O cargueiro caminhava lento
E eu pensativo
Vendo os livros no relento.
A noite
O silêncio
A luz
O vagão
Foram meus colegas
De versos diversos.
Parado nesta estação
Viajei muito em cada vagão
Embarquei, desembarquei,
Jamais me droguei
O meu despertador
Era um senhor casmurro
Que ia para praça da prefeitura
Vender chá de burro
Quando o dia amanhecia
Eu ia para casa
E a rotina de praxe
No meu lar
E na estação recomeçava.
O inverno sem chuva chegava
Outro verão
Outros verão
Mais uma viagem
Na mesma estação.