Barco sem vela
Barco Sem Vela
Sentia a flutuação do barco da vida
Levava-me onde nem sempre queria ir
Sem nunca chegar onde sonhava
Ia acumulando pesadelos e desenganos
Infinito finito
Aterrização brusca violenta
Barco a velejar, sem destino certo
Ida, leva sopro de bonança
Volta astásica, tristeza repentina
Sempre dizia: hoje encontro meu sonho
Mas sem nunca o encontrar
Confundia realidade e sonho
Límpido ou oculto
Embrenhava-se num mundo
Fantástico
Lúdico, subjetivo
Ergo urbes perfeitas
Amor profundo
Transeuntes: homens sensíveis e cultos
Castelos de areia
De repente, tudo se desfaz
No emaranhado imediatista,
Cítrico cotidiano
Que os seres violentam, desencontram
Ávida de emoções hilariantes
Varrendo a tristeza estertorante
Transigia por momentos
Paliativa evulsão interior
Tento extravazar à tona
Mas nunca dizia propriamente
O que queria de dentro externar
Implodia o sentimento verdadeiro
Ficava a palavra vazia
O mundo não deixava falar
Adiava superpondo, omitindo
Sem explodir, sem derramar
ia navegando neste barco sem vela
Com todas as intempéries
Ainda com fé, para não naufragar.