Memória
Ontem viajei de jegue
Dentro do panacum
Brinquei de fazer gente
Gente de barro
Lá no riacho da minha infância
Vi painho
Fazendo fogueira
Arrumando o ramo
Pra embelezar
A reza de santo Antônio
Vi mainha
Mulher parideira
Não por escolha
Mas por circunstâncias
Cuidando da sua ninhada
Finda a reza
Tinha sempre dança de roda
E dona Milu não deixava faltar
Os seus deliciosos quitutes
Tinha bolo de aipim
Beiju, café torrado
Mugunzá e pamonha
No terreiro era aquele alvoroço
Muitas brincadeiras, cantorias
Pra saudar o Santo Antonio
O protetor do dono da casa
Ele também tinha nome de Antonio
decerto devoção de sua mãe
Um homem valente
Mas também
Revelava doçura no servir
fazia de um tudo
Consertava motor
Tirava leite e compartilhava
Parte das terras
ele também dividiu
Com os antigos trabalhadores
E emprestava a casa de farinha
Contrariando
Os "meeiros" fazendeiros
Era até parteiro
Às vezes a criançada
Muito apressada
Não conseguia
Escapulir na cidade
E pulava ali mesmo
Na estrada
Bem em frente a sua casa...
Nessa história tem tristeza
Mas vamos deixar pra lá
Queimamos tudo na fogueira
Porque agora
Só vale guardar
O que for bom de sonhar...
Escrita em 29/07, estimulada por uma oficina de cordel , dentro do projeto encontros girantes, organizados pela Gira Girou. Escrita com escuta de cordelistas guiada pelas meninas Elvisa e Fernanda. Mas aqui não é cordel é apena uma imitação.