CAMINHOS
CAMINHOS
Lembro-me que passei
um dia,
por esse caminho
que passo de novo agora;
e sinto
a sensação da criança
que fui num tempo pretérito.
E é como
se o tempo nao passasse
retendo-me nesse caminho;
cuja memória pueril,
refaz os passos vagarosos
de quem,
mesmo já adulto,
engatinha as primeiras
andanças
pelas veredas existenciais.
Sei que não há mais
nesse caminho,
vestígios de minha andança
carnal pueril;
mas sei que há nele,
os indícios infantis,
ocultos e mantidos
na memória espiritual.
Memória eterna,
que não foge como o vento,
que passa afoito
erguendo poeira,
ou mesclando-a
com as poças d'água;
sendo que ambos
(a poeira e as poças d'água)
estão nos caminhos,
pela presença temporária
do verão ou do inverno;
que se dissipam
após algum tempo,
e seguem com o vento,
numa fuga coletiva
de abandono
ao que não mais lhes convém:
poluir o ar
nas veredas durante o estio;
ou acumular água da chuva
nas sendas
ao longo do inverno.
Memória eterna,
que acumula inúmeras
fases pueris:
de corpos físicos inexistentes;
de ossos
carnais esquecidos e fétidos
no interior
frio dos túmulos envelhecidos;
cujas flores,
mesmo murchas sobre eles,
ainda exalam
o cheiro nauseabundo
dos restos carnais.
Passo de novo
por esses caminhos, atento
a minha consciência meditativa,
tentando
seguir por sobre
os rastros perdidos
de minha outrora infância;
na qual a vida
era apenas uma forma displicente
e alegre de brincar;
de sonhar em ser um futuro poeta;
ou de achar
que a vida se resumia
em contar fábulas
bem ricas
de ações imaginativas.
Só o tempo passado,
retido na memória
espiritual,
consegue fazer-me relembrar
dos passos dados
nas sendas de minha infância.
E se o tempo presente,
esboça novos passos,
que ficam entalhados
sobre o chão rústico
do homem caminheiro,
apenas a morte,
fará com que
em minha velhice,
o meu espírito desencarnado,
veja claramente,
o acúmulo
dos meus passos dados
sobre os etéreos
caminhos da eternidade.
Escritor Adilson Fontoura